
EDUCAÇÃO, RESPONSABILIDADE DE TODOS
HISTÓRIA DO JOÃOZINHO (nome fictício)
15/08/2014 00:03João (nome fictício) começou a
frequentar a escola no início do segundo semestre. Aos 5 anos de idade, era a
primeira vez que ele entrava numa instituição de ensino. O grupo de professores
e os gestores já tinham lidado com casos como esse antes, no entanto, com João
havia algumas especificidades que nunca haviam sido vivenciadas.
A adaptação do menino não foi nada
fácil. Nos primeiros dias, ele ficava o período inteiro num canto e não
brincava nem conversava com os colegas, por mais que a professora e algumas
crianças o convidassem para jogar bola ou ir ao canto de faz de conta. João não
se soltava e grudava no irmão mais velho, que lhe fez companhia o tempo todo. O
irmão também não se comunicava muito, porque era bastante tímido e sempre
abaixava a cabeça quando lhe perguntavam algo.
Foram quatro dias sem nenhum sucesso.
Na sexta-feira, quinto dia que João
estava na escola, a mãe da Mariana (nome fictício), uma colega do menino,
trouxe um par de tênis e dois agasalhos para o garotinho novo da sala a pedido
de sua filha, que estava muito preocupada. Mariana havia dito à mãe que estava
fazendo muito frio e o colega só usava chinelo e uma blusinha fininha. Outra
coleguinha também havia lhe contado que João morava próximo a sua casa e que
sua família era bem pobre e habitava uma casinha de madeira que não tinha
banheiro. Sensibilizada, a mãe da menina pediu à filha que mostrasse o garoto
para ter noção de seu tamanho e providenciou o tênis e os agasalhos.
Achamos uma graça a preocupação da
Mariana e a atenção da mãe, mas também ficamos um pouco preocupadas, pois a
turma parecia saber bastante sobre o João e a escola não. Até aquele momento,
nem as professoras nem as gestoras tinham encontrado os familiares, porque a
matrícula do menino foi efetuada pelo pai durante o recesso e ninguém
compareceu à primeira reunião de pais do segundo semestre. Os convites para
marcar um horário para conversar enviados para casa através do irmão também
ficaram sem resposta.
Uma visita que fez
toda diferença
O jeito foi ir até a casa da criança.
E quantas foram as descobertas ao chegar lá! De fato, a moradia do João era um
barraco feito de tábuas no quintal da casa de uma tia. Foi ela que recebeu a
professora e contou um pouco sobre a história da família. Os pais eram
analfabetos (por isso, de nada adiantava enviar bilhetes para a família), assim
como o irmão mais velho, que sempre largava a escola para trabalhar nas
colheitas. Os dois meninos passam os dias sozinhos e livros, papéis e lápis
eram materiais inéditos ao caçula. Outra informação que nos chamou atenção foi
que nenhum dos dois sabia utilizar o banheiro - eles corriam para o mato sempre
que precisavam fazer suas necessidades, como era costume na região da qual
vieram.
A história que a tia nos contou só
contribuiu para que todos da equipe escolar tivessem um olhar diferenciado para
o processo de adaptação de João. Por isso, elencamos algumas estratégias
específicas para integrar o menino, como apresentar cada espaço da escola,
ensiná-lo a usar o banheiro e talheres e convidar seu irmão para participar de
algumas atividades com ele, como pedir que cuidasse do grupo que jogava bola no
campinho - nessa hora, os professores apenas observavam de longe para não
intimidar.
Na sala, a professora apresentou o
material do dia a dia e, em vez de insistir para que João o utilizasse,
preferiu dividir tudo em duas caixas: uma com giz de cera, canetinhas e papéis
e outra com jogo de encaixe e alguns carrinhos. A ideia era que, a cada dia, o
menino levasse uma caixa para casa e fosse se familiarizando aos poucos com os
objetos utilizados nas aulas e também tivesse materiais para brincar junto com
o irmão.
Como crianças são muito espertas e se
adaptam muito mais rapidamente do que adultos, alguns dias já levaram João a se
entrosar um pouco melhor com o grupo e se arriscar a jogar bola com os colegas.
Foi na hora da história que o menino começou a se soltar mais. Ele ficava
encantado e se permitia rir e se fascinar com o mundo mágico da literatura.
Agora, além de continuar o processo
de adaptação e de conquista da autonomia na escola, temos o objetivo de
ensiná-lo a escrever o nome próprio e incentivá-lo a participar das diferentes
situações didáticas.
Você já passou por uma situação tão
delicada assim? Compartilhe conosco!
Um abraço, Leninha
TAGS: integração
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